terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Votos para 2012: Jesus na sala de aula

Seguramente, a pequena troca epistolar que mantive com a diretora da minha escola, agora na ocasião do Natal, em que muito falámos de Menino's Jesus, foi a mais interessante de todas. Por isso, ela, melhor do que ninguém, perceberá a razão da ficção que agora aqui reproduzo.
Encontrei-a precisamente hoje de manhã, quando comecei a ler uma pequenina publicação que recebi na noite dos presentes de Natal. É uma edição das Edições Paulinas, os autores são Dom Itamar Vian e Frei Aldo Colombo. O título do pequeno livrinho: "Do jeito certo"
É do que podemos deduzir como lição da parábola que transcrevo a seguir, "Jesus na sala de aula", que eu formulo os meus votos e desejos para o ano de 2012: para além dos tradicionais "melhor que o que acaba", "saúde", "dinheiro" e coisas assim, desejo que os alunos das nossas escolas tenham professores empenhados em reconhecerm, nas suas turmas, o aluno Jesus; e que os nossos professores experimentem a alegria de encontrarem a presença de Jesus nas suas aulas.
Querida Zé, diz-me depois de leres esta história: tem ou não a ver com o que fomos conversando nestes natalícios dias?

JESUS NA SALA DE AULA

Ana Luísa sempre foi uma boa aluna e tirava as melhores notas da sala. Ela sonhava ser professora.
Cresceu e realizou seu sonho. A sua primeira experiência foi numa escola na periferia, com uma classe especial, formada por alunos repetentes.
Ela prometeu a si mesma que amaria intensamente aqueIas crianças que não eram amadas, e faria delas pessoas voltadas para o bem. Mas, aos poucos, a promessa ficava mais difícil de ser cumprida: Ana Luísa se decepcionava dia após dia. Os alunos eram rebeldes, desordeiros … enfim, impossíveis.Todos os dias inventavam algo para provocar a jovem professora.
A gota d’água foi quando eles encheram a sua mesa com um monte de figuras pornográficas. Chorando, Ana Luísa apresentou seu pedido de demissão, em caráter irrevogável.
A diretora da escola, uma mulher sábia e dedicada, argumentou:
- Mas como você vai fazer isto, se em sua sala está estudando o próprio Jesus!
- Como? – perguntou a jovem, incrédula.
E a diretora garantiu:
- Sim, é isso mesmo que você ouviu. Jesus está inscrito na sua sala de aula. Mas ele está incógnito. Não sabemos quem é.
A jovem mestra ouvia tudo, intrigada.
- Não posso lhe dizer mais nada. Mas lhe asseguro que não estou brincando. Ele é um de seus alunos, ressaltou a diretora.
Assim, Ana Luísa retornou à sala de aula, mas com outros olhos. “Quem será? “, se perguntava. Levantava hipóteses e suspeitas sobre qual de seus alunos poderia ser Jesus, que acabavam no mesmo dilema: “pode ser ou não”. Afinal, como saber, se Jesus não queria ser reconhecido?
Então, desde aquele momento, a professora passou a tratar cada um dos seus alunos com especial carinho e esmero, pois imaginava que Jesus poderia ser qualquer um deles.
E aos poucos, tudo foi mudando: os alunos começaram a se sentir respeitados e aprenderam a respeitar também.
A história que a diretora contou a Ana Luísa não foi inventada. Ela leu no próprio Evangelho: “Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; fui peregrino e me acolhestes; estive nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava preso e viestes ver-me”  (Mt 25,35-36).
Eis aí o vestibular para o paraíso. São João da Cruz tem duas sentenças magistrais sobre o julgamento de Deus, que podem ser usadas para ilustrar esta história: “Onde não há amor, plante amor e, um dia, colherá amor.E no anoitecer da vida, todos seremos julgados pelo amor”. Naturalmente a palavra amor tem muitos significados. Aqui, falo do amor responsável e exigente, do amor que tem sua origem em Deus.
Existe uma norma básica em todo processo educacional, que pode ser sintetizada em poucas – mas importantes – palavras: amor, firmeza e diálogo. E, se isto não funcionar, apele para o perdão. E depois recomece, com amor, firmeza e diálogo.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

E.I.C.A. - "Colegas que fizeram parte das minhas oportunidades na escola."

Os professores, a seu tempo, também foram alunos. É o caso do professor Fernando Pinto. Naquele tempo, a regra era as turmas não serem mistas. Os recreios e as escadas de acesso às salas de aula também eram separados.
E.I.C.A. quer dizer Escola Industrial e Comercial de Abrantes.

Ano letivo 1967/68


Ano letivo 1969/70


Ano letivo 1972/73


sexta-feira, 22 de julho de 2011

O aviso e o sábio alento do padre António Vieira

O meu primo Aníbal Pinto de Castro, o primeiro livro que me ofereceu foi o "Bichos", de Miguel Torga, há cerca de 40 anos. Depois, muitos mais me ofereceu, e entre os autores todos, ajudou-me a ter um carinho muito especial pelo padre António Vieira, carinho esse que só tem crescido à medida que os anos passam.
Por isso foi com uma alegria muito grande que vi a formação da Natália e do Odlei, com a Associação Ubuntu, sob os auspícios do Instituto Padre António Vieira.
Ontem, cheguei à Horta, para cantar os parabéns à minha mãe, que completou uns lindos 83 anos.
Hoje, peguei num livro que comprei no ano passado na feira do Livro da Semana do Mar, aqui na cidade, sobre o padre António Vieira. Não pude encaixá-lo nas leituras dessas férias. Nas deste ano, dei-lhe prioridade.
Logo no prefácio encontrei escrito o seguinte, que reproduzo aqui em saudação muito especial ao dr. Rui Marques, e a todos os amigos açorianos:
Vieira também foi um incansável peregrino e padeceu terríveis percalços por mares e terras, o que só acrescentou valor à sua coragem. O pior naufrágio de Vieira aconteceu nos Açores, seguido de completa pilhagem de tudo: navio, carga, bagagens e até roupas da tripulação e dos passageiros: os corsários holandeses se locupletaram. Vieira e seus companheiros de viagem foram jogados na Ilha Graciosas, como Jonas em Níneve, assim relata a Bíblia e assim o lembra o pregador. No memorável Sermão que pregou nos Açores, Vieira mostrou que ninguém deve temer os riscos quando os objectivos são nobres: "Senhor, não vos dou graças por me livrardes do perigo, senão porque me meteste nele." Esta é a alma de um génio incansável, audacioso, destemido, generoso e até implacável, quando necessário. Esta é a alma dos vieirianos. (in Diário de Bordo, padre António Vieira, de António de Abreu Freire, pág. 2)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Inovação social, trabalho sério, sistemático e resistente na escola

Inovação social.
Inovação social, destaca o senhor Presidente da República. Acabo de ver no telejornal da RTP1 uma reportagem sobre a cerimónia de de receção pelo senhor Presidente da República aos jovens participantes no projeto educativo da Academia Ubuntu, precisamente no Dia de Nelson Mandela. Fico orgulhoso com o destaque dado aos testemunhos dos alunos da Eça. Sobretudo, além do valor que eles merecem que lhes seja reconhecido, penso que um reconhecimento deve também ser feito ao meu irmão Acúrcio Domingos e ao trabalho na área da Mediação que tem vindo a desenvolver na E.S.E.Q. (Lisboa), há muitos anos. Parabéns, mano! Parabéns ainda ao Instituto Padre António Vieira e ao dr. Rui Marques pela iniciativa! Beijinhos (mil e um), abraços (outros tantos) e votos de muitos sucessos e felicidade na vida para os alunos da Eça (a Natália e o Odelei), e ainda para os outros, que, seguramente, valem tanto quanto os nossos!...
Pode ver-se a reportagem aqui

domingo, 15 de maio de 2011

Schubert: Erlkönig (O Rei dos Álamos) - Que história!...

Calhou - em boa hora, diga-se de passagem! - ver e ouvir o programa do maestro António Vitorino de Almeida, na RTP2, há poucos minutos.
O maestro contou-nos mais uma história, verdadeira, para ser para nós mais um exemplo. Exemplo de uma vida a desenvolver-se, onde podemos ver a luta contra a pobreza, o valor dos pequenos nadas, a paixão pela arte, a força das convicções pessoais, o caminho duro da realização pessoal.
O protagonista da história é Franz Schubert, autor de uma preciosíssima Avé Maria, felizmente tão divulgada e tão conhecida.
O que eu não sabia...
  • era que Schubert é comummente criticado por criar obras demasiadamente longas...
  • era que Stravinsky confessou um dia que, por isso, adormecia sempre a meio da audição das obras de Schubert...
  • era que logo houve quem se aproveitasse a confissão de Stravinsky para censurar, mais uma vez, Schubert...
  • era que Stravinsky fez questão de esclarecer os seus interlocutores que sim, senhores, era verdade que adormecia a meio, mas que quando acordava percebia sempre que tinha estado a sonhar com o Paraíso...
  • era que Schubert tinha tal falta de recursos para frequentar a escola (que era uma escola pobre, também) que, quando escrevia à família, pedia, muitas vezes, que lhe mandassem... uma maçã!...
  • era que Schubert não tinha dinheiro para comprar folhas de música, por isso as fazia ele próprio, a partir do papel que tinha à mão...
  • era que, aos 14 anos (!!!), Schubert compôs uma pequena obra a partir das leituras de Goethe, autor que ele "devorava". A pequena obra foi "O Rei dos Álamos", ainda hoje considerada uma obra-prima no seu género.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"Despertar" de Ricardo de Sousa, Diogo Gil e Luís Candeias

Um trabalho que me dá uma satisfação muito especial.
E me dá muito orgulho.
Tenho o privilégio de conhecer algum do magma humano de onde saiu esta forma sublimada.

domingo, 2 de janeiro de 2011

A saga dos “TODOS ENCOSTADOS À PAREDE, JÁ!...” - capítulo 6/6

CAPÍTULO 6/6

Fechar a saga como se abriu: com uma infração... Isto é mesmo viciante!...

Esta saga está a chegar ao fim.
Pelo menos estamos à porta do fim. Literalmente, da porta de entrada para a pousada; metaforicamente de saída da saga. Pois nesta altura (voltamos ao literalmente falando) - eram desoras!... aquilo já não era noite e a gente não queria reconhecer que já se adivinhava o dia!... Mais uma vez, houve um  proativo (nesta altura não se usava este termo técnico, e muito menos sem o tradicional cê antes do tê; nesta altura, na melhor das hipóteses, alunos assim eram mais "auto-mobilizados") par de alunos que se prontificou imediatamente para encontrar a solução.
Não me lembro quem fez a prospeção local, de urgência, àquela hora; não me lembro quem teve a ideia, não me lembro dos pormenores que me apresentaram numa brevíssima conferência pós-prospeção. Era tarde e eu queria ver aquela malta toda nos quartos, e esperava que aproveitassem para descansar. Descansar a sério!... Mas duvido que o tenham feito...
Muito bem, a ideia era a seguinte:
Havia uma janela no primeiro andar que estava aberta, havia logo ali um muro que era um bom ponto de apoio para entrar por aquela janela; só havia que fazer uma torre humana para alcandorar um pequeno herói que passasse por aquela janela e descesse ao rés-do-chão para abrir a porta ao grupo todo.
Minha nossa!... Outra infração!... Outro crime!... Sim, senhor!... Que noite inesquecível!...
Bem, perdida a “honra” por cem, perdida a “honra” por mil. Muito bem, quem vai?...
Não me lembro já quem foi, tenho uma memória razoavelmente de alguém (um rapaz) em cima do muro, que depois entrou pela janela aberta. Lembro-me de alguém vir, finalmente, abrir a porta. Mas não tenho memória do rosto, nem do nome do autor da proeza.
Não sei como foi o resto da noite daquela malta toda. Como já disse, duvido que tivessem ido direitinhos para a cama para dormirem que nem anjos…
Não há, tanto quanto sei, quaisquer fotografias que guardem algum pedaço histórico desta noite… inesquecível!
E pronto, este texto tinha, um dia, de ser parido. Estava "entalado", recalcado (como eu ensino aos meus alunos), pronto a retornar. A partir de agora, deverá ficar completamente sublimado (Sim, meninos, isto é uma espécie de revisão dos conceitos da Psicanálise). Foi-no entre os dias 28 e 29 de Dezembro de 2010. Para que conste. Na Horta, no Faial, pela facebookiana pressão de alguns ex-alunos. Maravilhosos ex-alunos!
E se um dia quiserem voltar a Vila Nova de Cerveira, ao local do(s) crime(s), vamos a isso! Não é o que dizem que os criminosos fazem sempre?

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sábado, 1 de janeiro de 2011

A saga dos “TODOS ENCOSTADOS À PAREDE, JÁ!...” - capítulo 5/6

CAPÍTULO 5/6
As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha... Mas... que é isto?... Fechados na rua, como o puto de Alves Redol?...

            O senhor Comandante não quis correr o risco de falar demais. Quis apenas lembrar a lei, a necessidade de ser bem cumprida, para segurança de todos os utentes da via pública. Depois (tudo sempre com poucas palavras e sem sorrisos) deixou clara a tolerância com que decidira dar encerramento àquela situação: não multaria ninguém, mas todos deveriam cumprir escrupulosamente o que ele ia anunciar a seguir.
A sentença:
Regressaríamos a pé a Vila Nova de Cerveira. Pela berma da estrada, dois a dois, pela berma do nosso lado esquerdo, caminhando em sentido contrário ao do trânsito, vendo os veículos mais próximos de nós chegarem-se pela nossa frente.
E repetiu: dois a dois, roupas mais claras do lado de fora, do lado da estrada, para podermos ser melhor vistos pelos senhores condutores.
Determinou ainda o seguinte: poucas falas, nada de brincadeiras, muita atenção aos veículos, Não entrar na estrada para não criar dificuldades aos senhores condutores, passo certo e regular, sempre igual.
Eu já pensava no tempo de regresso à pousada!... Reparem, estávamos num sítio ermo, ainda não era o tempo dos telemóveis…
Veio-me à lembrança uma situação caricata em que estive envolvido com colegas da Faculdade, poucos anos antes, numas célebres férias de Verão na região de Góis, quando fomos apanhados no fogo cruzado da discussão entre um amigo nosso e o seu pai, que disputavam a carrinha com que o rapaz nos tinha levado a uma festa. O rapaz acabou por recusar-se a ir na carrinha com o pai. Nós ficámos condenados a estar solidários com ele. Longe de casa, caminhámos toda a noite, chegámos a casa já com o Sol a nascer. Mas eu ia contentíssimo e aliviadíssimo. O estado de embriaguês do nosso amigo condutor não me deixava nada descansado, já tínhamos, nessa noite, dado muitos trambolhões na traseira de uma carrinha… de caixa fechada. Na serra da Lousã.
Finalmente, a acabar as suas indicações, avisou-nos que tivéssemos cuidado, ele iria estar por perto. E despediu-se de nós sem nunca se sorrir. Não fazia mal, no fundo, foi compreensivo, foi tolerante, mas tinha de fazer o seu papel. Sempre era um caso de trinta cabeças que ele tratava de maneira diferente da única cabeça da semana anterior.
Hoje tenho amizades com jovens oficiais e praças da GNR, capazes de me fazerem dar a vida por qualquer um deles. E acabou por ser na GNR que encontrei um maduro oficial, senhor de uma exemplar pedagogia na abordagem de jovens infratores.
Não me lembro se houve despedidas de apertos de mão; pelo menos, troquei um com o heróico e simpático condutor, agora aliviado daquele momento tão desagradável. Não me esqueci de lhe agradecer a simpatia e pedir-lhe desculpas pelo mau momento que tinha passado por nossa causa. Respondeu-me que tinha gostado de conhecer-nos.
Pronto. Fizemo-nos à estrada, tal como determinado. Em absoluto silêncio. Só aos poucos a conversa foi regressando. É claro que apareceram as piadas, os risos nervosos… Todos nós tínhamos de assimilar o momento verdadeiramente angustiante por que tínhamos acabado de passar.
Caminhámos… horas! Estávamos a levar a sério o aviso do senhor capitão da GNR, quando nos disse que tivéssemos cuidado porque eles estariam por perto. E em boa hora resolvemos ter o cuidado que tivemos!
Na centopeiíca fila que formávamos à beira da estrada, alguns estavam encarregados de vigiar a estrada, não fosse o carro da polícia voltar. O que veio mesmo a acontecer: a certa altura, um dos nossos perscrutadores de serviço localizou, ao longe, por detrás de nós, um veículo que, a certa altura, desligou os faróis (Infração!...). Já muito perto de nós, esse veículo voltou a acendê-los e acabou por passar por nós. Era o carro da GNR!...
Finalmente chegámos à pousada. Tarde, tardíssimo, ou melhor, já quase “cedíssimo”. Quisemos entrar, batemos à porta, mas nada. Outra vez… nada. Acabámos por ser avisados pelo lado de dentro que a mãe da pousada se recusava a abrir-nos a porta àquela hora. Algum problema?... Sim, para mim era um problema: ali na rua, àquelas horas da noite, com 30, perdão!, 29 alunos à minha volta. Que mais havia de me acontecer naquela noite?
Os alunos esperavam que eu inventasse uma solução. Embora a outra “ocorrência” desta noite tivesse sido uma batata bem maior e bem quente nas mãos, esta batata agora não deixava de ser pesada e de queimar, também. Eu repetia para mim: “E agora, que vou fazer?...”

(Continua... Capítulo 6: Fechar a saga como se abriu: com uma infração... Isto é mesmo viciante!...)

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