sábado, 1 de janeiro de 2011

A saga dos “TODOS ENCOSTADOS À PAREDE, JÁ!...” - capítulo 5/6

CAPÍTULO 5/6
As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha... Mas... que é isto?... Fechados na rua, como o puto de Alves Redol?...

            O senhor Comandante não quis correr o risco de falar demais. Quis apenas lembrar a lei, a necessidade de ser bem cumprida, para segurança de todos os utentes da via pública. Depois (tudo sempre com poucas palavras e sem sorrisos) deixou clara a tolerância com que decidira dar encerramento àquela situação: não multaria ninguém, mas todos deveriam cumprir escrupulosamente o que ele ia anunciar a seguir.
A sentença:
Regressaríamos a pé a Vila Nova de Cerveira. Pela berma da estrada, dois a dois, pela berma do nosso lado esquerdo, caminhando em sentido contrário ao do trânsito, vendo os veículos mais próximos de nós chegarem-se pela nossa frente.
E repetiu: dois a dois, roupas mais claras do lado de fora, do lado da estrada, para podermos ser melhor vistos pelos senhores condutores.
Determinou ainda o seguinte: poucas falas, nada de brincadeiras, muita atenção aos veículos, Não entrar na estrada para não criar dificuldades aos senhores condutores, passo certo e regular, sempre igual.
Eu já pensava no tempo de regresso à pousada!... Reparem, estávamos num sítio ermo, ainda não era o tempo dos telemóveis…
Veio-me à lembrança uma situação caricata em que estive envolvido com colegas da Faculdade, poucos anos antes, numas célebres férias de Verão na região de Góis, quando fomos apanhados no fogo cruzado da discussão entre um amigo nosso e o seu pai, que disputavam a carrinha com que o rapaz nos tinha levado a uma festa. O rapaz acabou por recusar-se a ir na carrinha com o pai. Nós ficámos condenados a estar solidários com ele. Longe de casa, caminhámos toda a noite, chegámos a casa já com o Sol a nascer. Mas eu ia contentíssimo e aliviadíssimo. O estado de embriaguês do nosso amigo condutor não me deixava nada descansado, já tínhamos, nessa noite, dado muitos trambolhões na traseira de uma carrinha… de caixa fechada. Na serra da Lousã.
Finalmente, a acabar as suas indicações, avisou-nos que tivéssemos cuidado, ele iria estar por perto. E despediu-se de nós sem nunca se sorrir. Não fazia mal, no fundo, foi compreensivo, foi tolerante, mas tinha de fazer o seu papel. Sempre era um caso de trinta cabeças que ele tratava de maneira diferente da única cabeça da semana anterior.
Hoje tenho amizades com jovens oficiais e praças da GNR, capazes de me fazerem dar a vida por qualquer um deles. E acabou por ser na GNR que encontrei um maduro oficial, senhor de uma exemplar pedagogia na abordagem de jovens infratores.
Não me lembro se houve despedidas de apertos de mão; pelo menos, troquei um com o heróico e simpático condutor, agora aliviado daquele momento tão desagradável. Não me esqueci de lhe agradecer a simpatia e pedir-lhe desculpas pelo mau momento que tinha passado por nossa causa. Respondeu-me que tinha gostado de conhecer-nos.
Pronto. Fizemo-nos à estrada, tal como determinado. Em absoluto silêncio. Só aos poucos a conversa foi regressando. É claro que apareceram as piadas, os risos nervosos… Todos nós tínhamos de assimilar o momento verdadeiramente angustiante por que tínhamos acabado de passar.
Caminhámos… horas! Estávamos a levar a sério o aviso do senhor capitão da GNR, quando nos disse que tivéssemos cuidado porque eles estariam por perto. E em boa hora resolvemos ter o cuidado que tivemos!
Na centopeiíca fila que formávamos à beira da estrada, alguns estavam encarregados de vigiar a estrada, não fosse o carro da polícia voltar. O que veio mesmo a acontecer: a certa altura, um dos nossos perscrutadores de serviço localizou, ao longe, por detrás de nós, um veículo que, a certa altura, desligou os faróis (Infração!...). Já muito perto de nós, esse veículo voltou a acendê-los e acabou por passar por nós. Era o carro da GNR!...
Finalmente chegámos à pousada. Tarde, tardíssimo, ou melhor, já quase “cedíssimo”. Quisemos entrar, batemos à porta, mas nada. Outra vez… nada. Acabámos por ser avisados pelo lado de dentro que a mãe da pousada se recusava a abrir-nos a porta àquela hora. Algum problema?... Sim, para mim era um problema: ali na rua, àquelas horas da noite, com 30, perdão!, 29 alunos à minha volta. Que mais havia de me acontecer naquela noite?
Os alunos esperavam que eu inventasse uma solução. Embora a outra “ocorrência” desta noite tivesse sido uma batata bem maior e bem quente nas mãos, esta batata agora não deixava de ser pesada e de queimar, também. Eu repetia para mim: “E agora, que vou fazer?...”

(Continua... Capítulo 6: Fechar a saga como se abriu: com uma infração... Isto é mesmo viciante!...)

ATENÇÃO! LEIAM O PRIMEIRO COMENTÁRIO DESTE APONTAMENTO!

1 comentário:

Psikus disse...

Pessoal, era giro que não se limitassem a ler os capítulos desta saga. Percam um minuto, ou mesmo cinco, a deixarem, na forma de comentário, um registo das vossas lembranças desta... aventura! Já viram o livrinho que o relato desta ocorrência poderá dar? Um livrinho editado pela Eça, de autoria coletiva! Seria a primeira vez! Vá, força nesse teclado, a acrescentar memória!