quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A saga dos “TODOS ENCOSTADOS À PAREDE, JÁ!...” - capítulo 2/6

CAPÍTULO 2/6
Chegámos à discoteca, mas a música foi outra...

            Não andámos muito, as coisas aconteceram como o nosso disponível condutor (o senhor, ou já tinha acabado o seu dia de trabalho, ou também estava a gostar da aventura, e por isso tinha-se tornado nosso companheiro… ou cúmplice. Fosse o que fosse, foi de uma ajuda preciosa para nós!) nos tinha antecipado: a discoteca, assim a andar sobre rodas (nesta altura, em sentido literal e em sentido metafórico tudo corria sobre rodas), era mesmo já ali. Era claramente fora da povoação, era preciso sair da estrada, percorrer uma pequena saída alcatroada, a discoteca ficava completamente rodeada de arvoredo. Isolada, como convém a casas onde se faz muito barulho, assim não se incomodam os vizinhos; e quem quiser coscuvilhar quem frequenta casas deste tipo tem de ir pôr os olhinhos ou o nariz lá mesmo em cima.
            Só que a discoteca estava fechada. Os alunos ainda aventaram a esperançosa hipótese de que a discoteca “ainda” não estivesse aberta, mas não tardaria a abrir. Alguns saltaram da carroçaria, chegaram-se à porta da discoteca, procuraram qualquer informação de horário, mas nada. Deram a volta a todo o edifício, tudo parecia fechado, demasiado fechado para o gosto deles. Parecia que estava fechada como estão fechadas as coisas que estão fora da época de funcionar.
            Dispôs-se a salvar-nos o nosso já quase heróico condutor: havia uma outra, mais ou menos a 20 quilómetros dali. “Tchi!... isso é muito p’ra nós!...” “Não é nada, reagiu ele. “Eu levo-vos lá, não me custa nada!...” Eu ainda quis recusar, nem que fosse por delicadeza, mas a rapaziada que estava ali à minha volta abafou-me a voz com gritos entusiastas de “Vamos!...” Pronto, meti a viola no saco, subi para a cabine, o pessoal voltou para a carroçaria, o motor da carrinha voltou a roncar. Era já noite cerrada. Não sei se estariam todos eufóricos, mas pela berraria, bem parecia que estavam. Todos.
            Na cabine da viatura, as duas dezenas de quilómetros pela frente abriam espaço para uma conversa mais longa, mais tranquila, mais de expansão do conhecimento pessoal de uns e outros. Por isso, distraídos em tal conversa, só quando já não nos era possível evitar o que a seguir ia acontecer – já tínhamos sido vistos por quem não convinha nada que nos tivesse visto naquela altura – é que o nosso heróico condutor…
            Ah!... Desculpem interromper o discurso, mas este dado é importante: o nosso simpático condutor já se tinha predisposto, em conversa (convincente) comigo a marcarmos uma hora para nos ir buscar à discoteca e pôr-nos de volta à pousada! O senhor era mesmo simpático, e nós estávamos a portar-nos de maneira a cair-lhe bem no goto.
            Voltando ao relato, dizia eu, o nosso condutor interrompeu abruptamente a conversa, agarrou-me o braço esquerdo (apercebi-me, pelo tipo de toque, que a mão dele estava muito nervosa) e disse-me quase entre dentes: “Diga-lhes que acabei de vos apanhar ali em [não me lembro já do nome que ele disse] para levá-los um quilómetro ali à frente.”
            Eu, poucos momentos antes da distraída conversa ter sido interrompida, já me tinha apercebido de alguns clarões regulares de luz que, pelo lado de trás da carrinha, se projetavam um pouco à nossa frente, mas, como disse, ia completamente absorto na conversa com o motorista.
            Assim que me apercebo da manobra de condução do nosso herói, que guinava à direita e desacelerava o veículo; e que, ao mesmo tempo, vejo as rotativas fontes dos clarões passarem à nossa frente, pelo lado do eixo da via, pois, meus caros amigos, nessa altura tomei tal consciência do que estava a acontecer. Mas não me enervei, mantive-me calmo, pensava que não se iria passar alguma coisa relevante.
            Sem sair do veículo policial, sempre em andamento lento, o gê-éne-érre “pendura” indicou ao nosso condutor para onde os deveria seguir. Era logo ali à frente, só deu tempo que ele, o nosso querido condutor, agora visivelmente nervoso, repetisse o que já me tinha dito e me dissesse que ele tratava de tudo.
            Alguém lá da carroçaria, debruçou-se pela janela do lado direito da nossa carrinha e perguntou o que se estava a passar. Não tive tempo de lhe responder. Entrando numa saída à nossa direita, a carrinha parou um pouco mais para dentro do que o carro da polícia. Um dos gê-éne-érres já tinha saído do carro e apontou o espaço onde o nosso herói deveria estacionar a carrinha. Logo a seguir, uma voz fardada, dura, foi-nos dos tímpanos ao fim da espinha num arrepio gélido e, como um relâmpago, chegou-nos finalmente à consciência:
            - Todos fora da carrinha!... Todos encostados à parede!... Já!...
            Nesta altura tomei consciência que estava metido num grande sarilho!...
            Tenho uma vaga ideia de que um dos guardas empunhava uma arma. Segura tenho eu a memória de me ter passado pela cabeça a imagem de um fuzilamento.
            Todos encostados à parede!... Já!...

(Continua... Capítulo 3: Estamos entalados!... Enterrados até ao pescoço!...)

ATENÇÃO! LEIAM O PRIMEIRO COMENTÁRIO DESTE APONTAMENTO!

1 comentário:

Fernando Pinto disse...

essoal, era giro que não se limitassem a ler os capítulos desta saga. Percam um minuto, ou mesmo cinco, a deixarem, na forma de comentário, um registo das vossas lembranças desta... aventura! Já viram o livrinho que o relato desta ocorrência poderá dar? Um livrinho editado pela Eça, de autoria coletiva! Seria a primeira vez! Vá, força nesse teclado, a acrescentar memória!