Discurso para a D.T. [Directora de Turma]
Cara professora,
Pensava que se tinham esquecido de si? Mas não me esqueci, fique descansada!
Fez há pouco tempo 3 anos, desde que nos reunimos todos na sala 12 do pavilhão b com a minha nova turma, e com a minha nova D.T. Estávamos todos sentados, uns acompanhados, a maior parte sozinhos, um pouco receosos, sem saber do futuro que se avizinhava! Ah, se eu pudesse voltar atrás no tempo! Mas não podemos, não é verdade? Contentemo-nos com o actual, com as memórias que o tempo não nos fez esquecer, e com a esperança de um futuro sorridente…
Continuando, a calma instalou-se apenas quando começou a falar… Olhou para nós, tomou uma golfada de ar, e falou-nos. A professora, em pé, com voz doce e alegre, e nós, alunos, somente com caneta e papel na mão, mas com uma enorme alegria e esperança no coração.
Mas nem tudo é cor-de-rosa… tivemos os nossos percalços, cometemos erros, pagámos por eles, apanhámos sustos, enfim, vivemos!
Muitas pessoas consideram o normal como o ideal. Não concordo, pois a maior parte dos professores da Escola Secundária Eça de Queirós não é normal. A questão, neste caso, é o significado da palavra normal. Segundo o dicionário, normal é: “habitual; regular: conforme a norma.” Por outras palavras, o professor ideal seria uma máquina com dois orifícios: um para ouvir e interpretar o que o aluno disse ou escreveu, e outro para indicar onde o aluno errou. Dentro dela haveria um conjunto de circuitos electrónicos, que acabariam num chip, para o “professor” poder ter um mínimo de inteligência. Mas não haveria um orifício para dar uma consolação ao aluno, nem um que dissesse que viu que ele se tinha esforçado, mas que não conseguiu chegar lá.
Felizmente, os professores da nossa Escola não dispõem desses orifícios. Dispõem antes de um orifício apenas, que é multi-funções, pois tanto serve para ralhar como para elogiar o aluno. Esse orifício chama-se “boca”. Dispõem também de uma massa cinzenta e esponjosa, chamada “cérebro”, situada na caixa craniana, que por sua vez fica situada na área da cabeça. Tem como funções controlar o movimento, fome, sede, entre outras, mas dispõe de uma função fabulosa: a capacidade de amar.
E é isso que torna os professores da Eça de Queirós diferentes, e fora do normal. O normal seria um professor dar matéria durante um ano, avaliar o aluno, e no final irem ambos para férias, descansadinho, para nunca mais se cruzarem. Mas não. Os nossos professores, não se limitam a dar notas, eles dão-nos as suas vidas. Ao perderem aquelas horas da sua vida, a tentarem argumentar a nosso favor, a avaliar os nossos testes de forma a maximizar a nossa nota, a tornarem-nos adultos, oferecem-nos bocados de si mesmos.
É por isto, amigos, que tenho dito: “Sinto-me privilegiado por frequentar a Escola Secundária Eça de Queirós, que brilha sob o céu azul todos os dias do ano”. Graças a vocês, professores.
Aproveito para deixar aqui também os meus agradecimentos ao Professore Acúrcio, pela sua singularidade como professor, pois enquanto todos os outros professores pediam respostas, ele pedia perguntas. Agradeço também aos meus mentores, professora Idalina Caetano, e Professor Fernando Pinto, que me mostraram que é possível ir à lua em pé-coxinho. E em especial, à professora Isabela Afra, que se destaca dos outros pelos 3 anos como nossa D.T., pelos 3 anos a preencher relatórios, pelos 3 anos a “aturar” os nossos disparates, e pelos 3 anos de enxaquecas, e no final de 3 anos, ainda nos considerar os “seus meninos”. Sem ter nenhum grau de parentesco com quase 20 jovens, ela ainda trata-nos com afecto e com carinho. Essa é uma grande prova de amor. E agradeço-lhe por isso.
Um obrigado, agora sem distinções, a todos os meus professores, a todos os meus colegas e a todos os presentes nesta reunião.
E parabéns, por 3 maravilhosos anos de ensino, e por 3 maravilhosos anos a partilharem a vossa vida, em especial à professora Isabela Afra, cuja bondade é do tamanho de “Neptuno na Horta”.
“Neptuno na Horta”
No dia 15 de Fevereiro de 1986, sábado, entre as 12H e as 16H, inesperadamente aconteceu a maior tempestade do séc. XX e a maior até à data nos Açores, em que o vento atingiu velocidades de 250 km/h.
José Henrique Azevedo fez fotografias durante e após a tempestade. As ondas atingiram entre 15 e 20 metros e a rebentação das ondas chegou a atingir os 60 metros.
Dois anos depois, querendo mostrar o acontecimento com mais facilidade aos iatistas, que frequentam o seu bar “Peter Café Sport”, José Henrique passou duas das fotografias de diapositivo a papel. Descobriu então, que no momento em que tinha tirado uma delas, se tinha formado na rebentação da onda, uma figura humana (cabelo, olhos, nariz, boca e barba) dando-lhe o nome de “Neptuno na Horta”.
In http://www.petercafesport.com/noticias/noticiapt.php?id=26