sábado, 7 de março de 2009

Não vou falar de literatura saramaguiana...


Por iniciativa dos alunos do 12.º AS1 da Escola Secundária Eça de Queirós, teve lugar, no dia 5 passado, nas instalações da Escola o I.º Encontro de Animação Sociocultural.
Uma das contribuições para este Encontro foi da professora Ana Paula Ribeiro, directora de turma, que disse o seguinte:

Boa-tarde a todos os presentes

Sei que os meus meninos estão curiosos mas não, não vou falar de literatura saramaguiana, nem tão-pouco da vossa tão venerada gramática.

Foi-me gentilmente solicitado pelo senhor professor Acúrcio que fizesse uma breve intervenção neste Primeiro Encontro de Animação Sociocultural, embora não me tenha sido dado nenhum tema específico a propósito do qual eu pudesse meditar e discorrer. A liberdade total por vezes pode parecer assustadora…

A minha primeira reacção a tão atenciosa solicitação foi de franca animosidade. Atirei-lhe com um “não” de total e absoluta indisponibilidade para uma tarefa que, quando me foi proposta, há já umas semanas atrás, abracei e felicitei pelo seu pioneirismo.

Estamos a viver momentos difíceis, tempos de grandes mudanças; as solicitações sucedem-se, o trabalho jorra em catadupa, sobra-nos pouco tempo para olhar para nós e nenhum para olhar para os outros, para ouvir os outros, para sentir os outros.

Esse “não” irredutível deixou-me indisposta comigo mesma porque a minha atitude converteu-se num fechar de uma porta.

Depois de alguns minutos de vazio, tomei a decisão de dedicar este curto espaço de tempo, que me foi tão gentilmente destinado, àquilo que é uma das missões de qualquer actor de uma qualquer comunidade escolar, desde creches e jardins-de-infância até às escolas básicas e secundárias.

A vossa missão enquanto educadores sociais ou a nossa enquanto professores é precisamente a de abrir portas, de mostrar total disponibilidade para ouvir, sobretudo para ouvir os outros, os tais que nos rodeiam e que fazem com que o nosso minúsculo e insignificante mundo ganhe novos sentidos. Não podemos fechar as portas só porque isso facilita a nossa vida ou pelo menos não a dificulta.

Fala-se cada vez mais de desumanização global, de um mundo que perdeu o tino, de uma sociedade em vias de empedernimento. Nunca se impôs tarefa tão árdua ao ser humano: SER HUMANO! Ser sensível ao outro, criar pontes de afecto que nos ajudem a ultrapassar as barreiras que muitas vezes nos impomos, criar elos de ligação que facilitem a comunicação.

Aparentemente esta preocupação pode parecer nada ter a ver com este Primeiríssimo Encontro de jovens animadores, contudo, é precisamente a estes jovens que eu gostaria de delegar a responsabilidade que também eles irão ter na qualidade de educadores sociais. Respeitar a língua como veículo transmissor de saber e de saber ser. 

Tão ou mais importante do que saber ouvir, é saber comunicar as nossas ideias e os vossos sentimentos e afectos. Partindo do pressuposto que o receptor, o vosso público-alvo, as crianças com as quais vocês vão trabalhar, manifesta um interesse natural e espontâneo pelas múltiplas mensagem que vocês procurarão transmitir, a responsabilidade do (in)sucesso na compreensão das mesmas dever-se-á sempre ao emissor, a vocês. Para isso é de importância fulcral adequar a linguagem ao público-alvo, seduzi-lo, acorrentá-lo. Esse acto de sedução também passa pela arte de bem dizer e de bem escrever.

Espera-se de vós que cumpram a missão para a qual têm vindo a ser preparados e que saibam “ver, ouvir, pensar e sentir” ao longo desta pequena viagem que vão empreender nas próximas semanas.

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